E ai pessoal, tudo certo? Para se redimir de alguns dias sem posts, aqui vai um excelente texto do Felipe “Mojave” Ramos, com certeza vale a pena ler.
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REFLETIR TRAZ RESULTADOS
Na última edição da Flop, escrevi sobre como melhorar o jogo e a importância de tentar identificar os erros que cometemos, pois quando
as coisas não vão bem, a tendência é que tudo vá piorando – cada vez menos paramos para pensar nos supostos motivos que nos levam a continuar cometendo esses erros e a tendência é culpar os adversários, as bad beats e a má fase. É importante saber que o caminho da
reflexão realmente traz resultados. Recentemente, fiz várias finais no online, contando com mesa final do $100 + Re-buys do FullTilt, cinco mesas finais do $100 + Rebuys do PokerStars, incluindo um segundo
lugar na edição de domingo com 300K Garantidos, duas mesas finais do Sunday 500K do PokerStars (em quatro torneios jogados), além de mesas finais do $200 + Re-buys (250K Garantidos), $55 (125K
Garantidos), $109 (Regular e HORSE) e uma FT do $322 Big Deal 150K da rede Ongame (BestPoker). No cash game venho voando baixo, depois de agosto, alcançando uma variação muito menor do que a que tenho normalmente (saí perdendo em pouquíssimas sessões).
Não posso dizer que esses resultados são frutos da boa fase, não mesmo, pois é exatamente isso que estou tentando mostrar pra vocês: quanto mais tomarmos as decisões corretas e os fatores externos do
jogo influenciarem menos, muito melhores serão os resultados. Eu posso dizer isso com uma convicção enorme, pois não estou contando com muita “sorte”, não. Ando perdendo potes gigantes para três outs, retas finais de torneio em coinflip, etc. Finalizei entre os 100 jogadores
no Sunday Million quando meu amigo The__Dry ganhou o torneio, além dois outros SM entre os 200 e também fui bem fundo no 750K do FullTilt.
Se tivesse que dar uma nota para as minhas performances em torneios
ao vivo, eu daria um belo 5 – que só me faz “passar de ano” porque, nas outras matérias (cash game e poker online), estou com notas bem altas. E o fato de meus resultados em torneios ao vivo estarem em baixa cabe exclusivamente a meus erros em decisões nos mesmos. Lembro que tomei uma mega bad beat no Ceasars Classic, em Vegas, outra de um
out na Bellagio Cup, e perdi um coinflip com AQ x 99 na mesma Bellagio Cup. O resto realmente foi devido a decisões erradas, que preciso continuar trabalhando para melhorar, assim como consegui ajustar esse fator no cash game e no jogo online. De volta ao Brasil, joguei os torneios
das casas de São Paulo e venci mais de 50% deles! Olha a good run aí gente!
A pedido dos leitores que me escrevem, vou compartilhar com vocês uma
jogada que ocorreu no WPT do Bellagio, etapa Festa Al Lago, no Dia 1. Com blinds em 300-600 e ante de 50, eu abri raise de 1.550 com J7o na posição de cut-off. Meu stack era de 42K, sendo que a média rodava por 55K, o que me mantinha numa situação um tanto quanto confortável de 70 big blinds. O botão e o small blind foldam, até chegar no big blind,
um jogador bem conhecido de Las Vegas, com estilo tight-agressive, que resolve dar re-raise para 3,5K, ficando com um stack de 9K após a aposta. Eu já vinha jogando contra ele há cerca de seis horas e sabia que ele era um defensor de blinds, mas um jogador um tanto quanto fraco
pós-flop. Sendo assim, resolvi jogar contra ele em posição e dei call.
O flop veio 578 rainbow, o que me deu um par de 7 (middle-pair com kicker J), uma mão um tanto quanto fraca para jogar contra ele, em teoria. Sem muita demora, ele declara all-in dos 9K restantes. O pote tinha 7,5K e a atitude dele, pré e pós-flop, me fez acreditar que eu estava ganhando a mão, pois eu tinha plena certeza de que, se tivesse uma mão forte, ele daria mesa na expectativa de eu tentar roubar o pote,
pois era exatamente o que vinha fazendo na mesa e uma aposta minha também me comprometeria totalmente com o pote. Era um call um tanto quanto difícil, mas resolvi confiar na leitura, já que eu o estava colocando em duas mãos: par de 6, para um straight-draw, ou AK. Ele abriu uma mistura disso tudo, um belo K6o, o que me dava 65% de chances de ganhar a mão, no flop. O turn foi uma carta muito boa, um 6, que eliminava as chances de eu perder para o straight e dava um par para ele, me dando uma chance de 20% de empatar a mão e 70% para vencer, que é o que aconteceu quando veio uma Q, no river.
Tempos atrás, eu não estaria com confiança suficiente para acertar um call desses, não. Falta ou excesso de confiança é um grande problema para quem joga torneios, pois sabemos que basta tomar uma decisão errada e ver tudo ir para o espaço. Se a confiança está abalada, a chance de tomarmos uma decisão errada é muito grande. Por isso que o controle emocional é um fator extremamente importante. Eu ainda duvido que um jogador desequilibrado possa alcançar sucesso em torneios, a não ser que ele seja muito disciplinado. Mas eu ainda duvido.
Como grande exemplo, para me contrariar, temos o Phil Hellmuth, ganhador de 11 braceletes da WSOP. Toda vez que um jogador faz algo que ele não gosta, ele vai à loucura, sem contar as diversas vezes que ele se levanta da mesa para contar para a mãe dele que está em all in, que fulano vai apostar ou que tem isso ou aquilo. Acho que, no caso
dele, isso deve fazer mais parte da estratégia de marketing e de desestabilizar o adversário do que outra coisa, sem contar que ele é um jogador muito mais que disciplinado quando estamos falando apenas do poker em si. Mas, ainda acredito que ele seria um jogador muito melhor se ficasse quieto.
Já que falei de uma jogada bem-feita, agora vou falar também de uma jogada bem duvidosa, que fiz no EPT de Londres. Acredito que nessa jogada, a seguir, o meu adversário conseguiu me confundir bastante. Estávamos no segundo nível de blinds, 50-100, com stack de 10K.
Freddy Deeb, jogador conhecidíssimo de torneios e cash game high
stakes, ficava na posição de dealer quando eu era big blind, e a mesa era um tanto quanto passiva, então tínhamos muitos jogadores entrando de limp e meu stack estava oscilando entre 7K e 13K, pois eu estava jogando um pouco mais solto e, quando errava o re-raise ou continuation
bet contra os limpers, perdia algumas fichas. Lógico que, quando certava, eu também ganhava bastante.
Numa dessas vezes que Freddy Deeb entrou de limp, de UTG, resolvi variar um pouco e entrar de limp também, com AJ de ouros. O dealer dá call, o small blind completa e o big blind aumenta para 550. Freddy Deeb dá call, depois de pensar uns 15 segundos, seguido do meu call de mais 450, e vamos ao flop. K92 com duas cartas de ouros. O big blind, que fez o squeeze pré-flop, atira 1.200. Freddy entra numa geladeira e fica pensando por uns dois minutos, antes de anunciar seu allin de 12K. Confesso que não entendi muito por que um jogador demoraria tanto para agir nesse flop e daria all in, e foi nessa linha de raciocínio que tentei tomar minha decisão. Será que ele estaria fazendo um move no
flush draw? Bom, achei que seria 70% de chances de Freddy ter uma combination hand, tipo QT de ouros, jogando pelo gutshot e o flush. O K de ouros estava na mesa, assim como o 9, então seria impossível ele
ter top pair e flush draw, que seria uma mão horrível para mim. Será que ele faria essa jogada com trinca de 9 ou de 2? Improvável, pois com
certeza ele provavelmente iria querer tentar arrecadar mais fichas, já que eu estava jogando bem ativo e ele saberia que, se ele desse call
nos 1.200 e eu tivesse algo, eu viria por cima já no flop.
Sendo assim, cheguei à conclusão de que Freddy estaria fazendo um move numa possível mão combinada naipada e, se eu desse call no all in dele, além de pegá-lo possivelmente dominado, eu espantaria o big blind, que deu squeeze e depois saiu apostando no flop. Ah, também havia outro fator: caso eu estivesse errado na leitura (é lógico que eu iria me sentir muito mal, pois essa foi a conclusão a que cheguei da jogada), pela estrutura do EPT, com blinds de uma hora e stack de 10K fichas, me
restaria correr atrás do flush draw mesmo, que definitivamente não é a melhor jogada para um jogador de MTTs, principalmente no começo deles. Mas a estrutura do torneio também não é das melhores, então eu não teria grandes vantagens frente aos demais competidores.
Já se eu tivesse um stack de 25K, com média em 10K, isso sim seria uma
grande vantagem para mim. Então resolvi comprar a briga e fui de all in por cima. O big blind dá fold aberto em AK e Freddy abre trinca de 9, aos meus berros com um termo que não posso colocar aqui! Não vou discutir a jogada do Freddy Deeb, apesar de eu não achar a melhor jogada para esta situação, mas tenho que admitir que ele conseguiu me confundir
bem. No turn vem uma belíssima Q de ouros, me dando o flush nuts e me dando pedida para Royal Straight Flush, lembrando que o pote era de 25K e, se eu já estava levando pequena vantagem no evento, pré-flop e no flop, com 10K de stack, essa vantagem iria crescer bastante com 25K. E não é que o river dobrou, trazendo um K e dando full house para Deeb?
Fim de torneio para mim no segundo nível de blinds. Foi uma ingrata surpresa ver a trinca de Deeb, me ver na frente no turn e perder no river, mas, com certeza, a jogada correta nessa situação seria o fold no flop, já que, na maioria das vezes, não sou favorito para ganhar a mão e,
ainda mais, considerando que era início de torneio. Pelo fato de eu já ter bastante experiência jogando os EPTs e saber que a estrutura é um tanto quanto apertada, resolvi ir mesmo pro baralho, se fosse necessário, e sei que o racional da jogada faz bastante sentido, mas não deixa de ser incorreto.
É isso, galera. Espero que vocês tenham gostado dos exemplos que eu
trouxe aqui e que eles possam ajudar a compor o repertório de jogadas de vocês, lembrando que, quanto mais criativo, mais lucrativo (…).
Por Felipe “Mojave” Ramos – Primeiro brasileiro a conquistar duas premiações consecutias em etapas do EPT. No on-line, não é raro encontrar “mojave” nas mesas finais dos principais torneios da PokerStars e do FullTilt.
Fonte: Revista Flop nº 10 (Dez/2008)
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